“Cereja do Diabo” é um dos apelidos “carinhosos” dados a uma planta considerada tão fascinante quanto perigosa: a Atropa bella-donna. Membro da família Solanaceae, que reúne plantas consideradas “inocentes”, como o Tomate, mas também grandes campeãs de envenenamento, como o Meimendro , ela é uma espécie com uma história intrigante desde a Grécia Antiga.
Por que a Beladona é tão venenosa?
Antes de seguir com a sua história, é preciso falar primeiramente sobre o porquê de a Beladona ser tão perigosa. Contendo alcaloides como a atropina, escopolamina e a hiosciamina em doses muito elevadas, ela é uma planta venenosa por inteiro. A maior concentração do seu veneno está na raiz, mas os seus frutos – que surgem a partir da estrutura remanescente das flores, quando estas caem – são um perigo.
Contando com uma casca de aspecto brilhante e com sabor doce e agradável, os frutos da Beladona são bem atraentes, mas, em alguns minutos, são capazes de gerar taquicardia, delírios, vômitos e convulsões, podendo levar ao coma e à morte. Por isso, embora seus componentes sejam usados na produção de remédios que muita gente tem em casa, a história da Beladona é repleta de polêmicas.

Uma história fatal
Nativa da Europa, da Ásia e Norte da África, a Beladona tem um nome científico bem curioso: Atropa vem da deusa Átropos. Na mitologia grega, ela era uma das três moiras responsáveis pelo destino dos humanos – no caso, a que cortava o fio vida. Já bella-donna – “bela dama” -, por outro lado, teria origem renascentista, na prática feminina de usar o sumo espremido para dilatar as pupilas e ficar mais “atraente”.
Mênades
É ainda na Grécia Antiga que ela começa a ser relacionada ao “feminino fatal”. Isso porque ela era associada às Mênades, sacerdotisas do deus Dionísio, divindade do vinho, das festas e do prazer. Na mitologia grega, as Mênades usavam a planta não apenas em rituais sagrados, mas também sexuais. Como tudo o que envolve a sexualidade feminina costuma ser malvisto, logo a Beladona virou uma femme fatale, ponto reforçado pelo fato de que muitas narrativas afirmam que as Mênades matariam os homens após o prazer.

Lívia
Nesse sentido, embora homens e mulheres tenham usado Beladona para matar, os casos mais populares de seu uso são aqueles que envolvem as mulheres. Um dos mais notórios é o de Lívia, esposa do imperador romano Augusto, que teria matado inimigos políticos do marido em banquetes temperados com Beladona. Esse teria sido, inclusive, o método para matar o próprio marido: há a suspeita de que Lívia usou a Beladona para envenenar figos ingeridos por Augusto.
Bruxas
Na Idade Média, a planta foi associada às bruxas – que não eram mulheres diabólicas, mas sim dotadas de um conhecimento sobre o uso das ervas que incomodava o patriarcado. Por exemplo, na Europa medieval, era comum a preparação de um creme estimulante que incluía a Beladona e era espalhado sobre o cabo das vassouras. Este era pressionado entre as pernas para gerar prazer e delírios – e essa é uma das explicações para as imagens das bruxas voando em vassouras.
Mas e os homens?
Porém, homens também usaram a Beladona para os seus interesses. Na Roma Antiga, uma pasta de Beladona envenenava as pontas dos armamentos. Nas guerrras medievais, também envenenavam era barris de bebidas com a planta.
De um lado ou de outro, uma coisa é certa: na floriografia, a linguagem das flores, a Beladona tem bons motivos para “significar o silêncio”: em poucas doses, ela é capaz de calar as vítimas para todo o sempre.

Ficha Técnica:
- Principais nomes populares: Beladona
- Reino: Plantae
- Filo: Streptophyta
- Classe: Equisetopsida
- Subclasse: Magnoliidae
- Ordem: Solanales
- Família: Solanaceae
- Gênero: Atropa
- Espécie: Atropa bella-donna
- Origem: Albânia, Alemanha, Argélia, Áustria, Bélgica, Bulgária, Eslováquia, Espanha, França, Grécia, Hungria, Irã, Itália, Marrocos, Países Baixos, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Suíça, Turquia, Ucrânia e Iugoslávia.
- Nativa no Brasil: Não
Referências
The Complete Language of Flowers – S. Theresa Dietz
Flowers and Their Meanings – Karen Azoulay
Latim para Jardinistas – Lorraine Harrison
Floriografia -Jessica Roux
Natureza Macabra (Plantas) – Amy Stewart
https://www.ufmg.br/mhnjb/ceplamt/bancodeamostras/beladona/
https://florien.com.br/wp-content/uploads/2018/02/BELLADONNA.pdf
https://i-flora.iq.ufrj.br/hist_interessantes/ervas_bruxas.pdf
https://www.rcpe.ac.uk/heritage/deadly-nightshade-botanical-biography
https://www.fs.usda.gov/wildflowers/ethnobotany/Mind_and_Spirit/belladonna.shtml
https://www.ambius.com/resources/blog/plant-profile/history-of-the-deadly-nightshade-plant
https://www.gbif.org/species/144096243
https://eujournal.org/index.php/esj/article/view/17951
https://powo.science.kew.org/taxon/urn:lsid:ipni.org:names:814358-1
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17575737
https://www.sciencedirect.com/topics/immunology-and-microbiology/atropa-belladonna
https://www.sciencedirect.com/topics/agricultural-and-biological-sciences/atropa-belladonna
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0278691518302242





